27 de dez. de 2013

... FELIZ, FELIZ, FELIZ 2014!!

2013 nos proporcionou alegrias, tristezas, decepções, surpresas, lágrimas, sorrisos, gargalhadas
Pessoas debruçadas às janelas pedindo às estrelas saúde, paz e um novo amor... Perdemos pessoas queridas, artistas famosos...
Perdemos a fé, recobramos a fé...
Saíamos às ruas vestidos de coragem e lutamos por melhorias em nosso País
Demos presentes, ganhamos presentes
Abraçamos e fomos abraçados
Cantamos no chuveiro, dançamos na sala
Tomamos bons vinhos, assistimos a bons filmes, fizemos guerra de travesseiros
Viramos crianças de novo
Pintamos a casa, jogamos coisas fora, doamos outras
Lemos bons livros, ouvimos boas músicas, assistimos a boas peças 

Torcemos pelo fim das guerras, rezamos pela Paz...
Emocionamo-nos com a visita do Papa, ao Brasil 

Parabenizamos amigos e parentes pelas novas conquistas nos estudos
Assistimos a morte de grandes líderes, e as enchentes que devastaram cidades
Levamos nossos cachorros para passear, penteamos nossos gatos
Indignamo-nos, nas redes sociais com os maus tratos cometidos contra os animais
Fizemos amor, beijamos, demos carinho
Recebemos afeto e sorrisos de desconhecidos
Demos muitos “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”.
Cedemos lugares nos assentos dos ônibus, às pessoas mais velhas, deixamos um estranho passar na nossa frente na fila do mercado, pois ele só tinha uma lata de Nescau 

Agradecemos à moça da padaria, pela escolha do pão mais fresquinho, ajudamos no troco do caixa
Demos sanduíche a quem tinha fome, e atenção àqueles que moram nas ruas e não têm mais esperança num amanhã 



Reunimos a família ao redor da mesa para comemorar o nascimento de Jesus
Talvez os fatos se repitam em 2014, mas, com certeza, dentro de nós, algo diferente nascerá com ele
E esse é um dos melhores segredos da vida...



FELIZ 2014!!


23 de dez. de 2013

O Presente de Natal

A menina apressou o passo para conseguir acompanhar a mãe. Estava com sua mãozinha suada, mas não soltava a da mãe. Ana tinha cinco anos, ela olhou para cima e pareceu-lhe que sua mãe ficara maior do que ela. 
A mãe, no entanto, estava absorta em seus pensamentos, e esqueceu que estava quase arrastando a menina, já sem fôlego para continuar. Percebeu a fadiga dela depois de vários tropeços da pequena. Sentiu-se mal pela atitude agressiva com sua filhinha.
Para compensar sua consciência, levou-a para fazer um lanche. Colocou-a sentadinha em um banquinho e ficou olhando o apetite com que devorava o lanche.
Resolveu então dar um tempo e foram sentar-se no banco da praça, e frente à Igreja Matriz.
Percebeu as luzes da Natal, os arranjos, o presépio no meio da praça. Lembrou que já era quase Natal. Ficou pensando e sentindo nostalgia. Ana estava observando sua mãe há algum tempo, com tão pouca idade, mas já sabia que algo estava errado. Ficou imóvel, pois tinha medo de quebrar o silêncio.
A mãe deixou rolar as lágrimas, as quais tentou esconder.

- Mamãe, você está chorando?
- Não, filha.
- Está sim. Passa o dedinho e consegue segurar uma lágrima...
- Olhe, mamãe, você está chorando sim.

A mãe abraçou a menina num ímpeto de fuga. Escondendo seu rosto no corpinho da filha.
Ficaram por um longo tempo abraçadas. A mãe deu um longo suspiro e observou e olhou para longe, como se estivesse à procura de algo que ficou no seu passado de menina.

- O que aconteceu, mamãe? Você está triste? Fale comigo!

A mãe olhou a pequena e disse:

- Filha, é a saudade de um tempo que não volta mais.
- Conte, mamãe, conte sobre a saudade.
- Sabe filha, quando eu tinha a sua idade, meu pai, seu avô, trabalhava muito, mas o dinheiro não sobrava. Sua avó trabalhava rente para nada nos faltar e não faltava. O clima de Natal me traz muitas recordações. Papai e mamãe me traziam aqui, na época do Natal, havia o Presépio Vivo.
- O que é Presépio Vivo, mamãe?
- É encenado por pessoas vivas, como nós, até o menino Jesus era um bebezinho e chorava muito. Tudo nos fazia sentir paz. Perto da nossa casa, havia muitas crianças e todas recebiam algum presente do Papai Noel. Na esquina morava uma família muito pobre, o pai estava sem trabalhar devido a uma doença, a mãe lavava roupa para fora, mas tinha que fazer o trabalho em sua própria casa, para poder cuidar do marido.
E, ainda, havia o filho de cinco aninhos, ele era um menino especial.
- Por que especial, mãe? Ele era diferente?
- Sim, filha.
- Por que, mãe?
- Ele nasceu com uma doença e nunca andou, nem falou... Era triste vê-lo vê-lo crescendo sem poder ficar sobre as pernas. Ele ficava sempre no chão, sobre um monte de cobertas e panos para não se machucar. Percebia-se que ele sofria..., pois estava sempre com o olhar vazio, parecia querer gritar a sua dor. Todos
no bairro o conheciam como Pedro ou menino aleijado.

A mãe continuou a falar como se estivesse desabafando algo que a torturava. Sabe, Ana, todo Natal me traz lembranças do Pedrinho.

- Por que, mãe? Conte mais, conte!

A mãe continuou, a família e vizinhos trabalharam muito para conseguirem uma cadeira de rodas para ele, mas a cada ano o resultado era negativo. A mãe dele disse que a cada Natal, a família tinha esperanças de que alguém doasse o tão desejado presente: uma cadeira de rodas.
Havia muita gente engajada para conseguir sucesso, mas sempre havia outra prioridade.
Hoje, com a proximidade do Natal, veio-me a lembrança daquele Natal em que eu esperava ganhar uma bicicleta. Foi o meu pedido ao Papai Noel, mais tarde, resolvi escrever outra cartinha pedindo que Papai Noel trocasse a minha bicicleta por uma cadeira de rodas para o Pedro.
A noite de Natal se aproximava, os preparativos eram muitos, minha mãe e avó faziam bolachas pintadas com açúcar colorido, muitos doces e salgados, porém tudo era feito em casa, num grande forno, que ficava do lado de fora da cozinha.

A alegria contagiava a todos, meus primos, todos com a mesma idade, não conseguiam segurar a ansiedade para receber o Papai Noel. Eu estava aflita para que ele lembrasse das cadeira de rodas.
Chegou a noite tão esperada. O Papai Noel entrou pela porta da sala, trazendo um ajudante, pois havia muita coisa a carregar. Olhei para todos os lados e não vi nada parecida com cadeira de rodas.
A minha bicicleta veio, era linda, como eu imaginava. Corri os olhos e perguntei ao Papai Noel:

- Você não recebeu o pedido que fiz para Pedrinho?
- Ah! Sim, recebi. E com a ajuda de muitas pessoas, conseguimos.
- Ah! Papai Noel, conte como foi a entrega, como Pedrinho ficou?

Todos em coro gritaram:

- Conte! Conte! Papai Noel!

O velhinho curvou-se mais, olhou para mim, com os olhos cheios de lágrimas e soluçando me abraçou e disse:

- Ele acabou de ir para junto de Jesus, e lá ele não vai precisar de cadeiras de rodas...

Marli Terezinha Andrucho Boldori




16 de dez. de 2013

Estrela Montenegro do Universo



Ela nasceu Arlette Pinheiro Esteves, o ano era 1929.
Em entrevista ao programa Starte ( Globo News ), revelou que não gosta de ser reconhecida como dama do teatro, diva, mito e outros adjetivos.
Sempre com uma postura correta, Fernanda Montenegro falou sobre sua carreira, sua família, seu companheiro durante 60 anos ( Fernando Torres ) e falou sobre as pessoas que desejam seguir a carreira de ator e atriz: “Eu, geralmente, quando me perguntam: o que que você diria para um ator que está começando? Eu sempre digo: desista.” 

 Sobre como é  fazer teatro hoje, ela afirma:
“Hoje em dia, o que você fizer, você tem que passar pelo crivo estatal, a cultura está absolutamente nas mãos do governo (...)”
Sobre a beleza das mulheres, Fernanda afirma:
“(...) deformá-la é uma ilusão. Vamos dizer que eu agora fizesse uma plástica extraordinária, eu ia ter 70 anos. (...) E tem uma hora que não adianta costurar, mas também não sou contra quem faça. (...) Na verdade, também, eu nunca fiz a minha vida profissional pela beleza, aliás eu sempre me achei mais pra enfezadinha do que pra beleza. Nunca fui um tipo de beleza, eu sou de uma geração de mulheres deslumbrantes, então não adianta eu fazer esforço (...)”.
Percebemos também que a paixão maior de Fernanda é o teatro, são nos palcos de madeira que ela se realiza profissionalmente e pessoalmente:
“Quando você faz televisão ou cinema você se vê, e você às vezes diz assim “aquilo era melhor e ele não pôs, não escolheu... como, ele fez em close mas era tão bonito aquilo em long shot (...) a opção é de terceiros para montar a sua figura”, ou seja, a TV e o Cinema limitam o resultado das interpretações dos atores, sempre haverá um corte, ou uma música de fundo, ou uma lágrima falsa colocada às pressas para melhorar a cena. No teatro você é mais livre, você é o seu produtor, como no caso de Fernanda. Atores e atrizes como ela, não nasceram para serem aprisionados em gaiolas e limitadas como a TV e o Cinema fazem. 
Ela nasceu para voar, para ser Fernanda por completo, para interpretar e não ser censurada por uma mesa de edição.
O Brasil possui uma safra de atores que nos orgulham, que nos trazem sorrisos e lágrimas, que enchem nossos peitos de emoção a cada interpretação e Fernanda, para mim, é a mestra de todos.
Foi a única atriz brasileira a concorrer ao Oscar ( pelo filme Central do Brasil, 1998 ), vencedora do Urso de Prata ( pelo filme Central do Brasil, 1998 ), recentemente recebeu o Emmy Internacional como melhor atriz pela microssérie Doce Mãe. São quase 50 reconhecimentos, através de prêmios e indicações pelos seus trabalhos no cinema, tv e teatro.
Ainda sobre a entrevista, ela fala sobre as duas mulheres que vivem dentro dela: Arlette e Fernanda, e sobre seu casamento com Fernando Torres, seu parceiro na vida e na profissão e se dirige a ele no presente, mesmo tendo falecido em 2008. Quando indagada sobre a saudade que sente de Fernando, ela responde:
“ (...) no fim de 60 anos, graças a Deus, nós resistimos, graças a Deus, a carnificação deste encontro de uma forma tão apaziguadora, e, portanto, extremamente saudosa, porque... não como Brecht, Nas selva das cidades: “a mocidade  foram os melhores anos da nossa vida” (... ) a mocidade foram os melhores anos de nossas vidas sem que nós tivéssemos consciência, mas, os últimos anos de nossa vida, foram anos de consciência, de um encontro na consciência, e na apaziguação. (...) se a coisa tivesse tido um desenrolar lá, talvez não doesse tanto. Mas o apaziguamento nos tempos finais de uma vida, a caminho do final de uma vida, é muito difícil, não impossível, mas é muito difícil.
Porque na verdade eu estou sempre num diálogo com ele, tal o nosso vício um no outro (...)”.

E essa é Fernanda Montenegro. 










Para quem quiser degustar a entrevista integralmente, segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=fZoGVTbqIro


9 de dez. de 2013

Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelada

Na semana em que morreu o ícone da luta contra o racismo, não apenas na África do Sul, mas no mundo, um caso causa indignação.
Em São Paulo, o aluno é discriminado pelo seu cabelo black power.
A escola alega que o cabelo atrapalha os demais alunos, atrapalha o próprio menino, Lucas, e que o menino corria, suava e ficava “pingando”.
O menino pergunta: como que meu cabelo vai atrapalhar aos meus colegas se eu sentava no fundo? Como meu cabelo vai me atrapalhar se ele cresce para cima?
Indagado como ele reagiu quando a diretora o chamou na sala dela para reclamar, ele disse: “Fiquei triste”.
Para um País que tem um dia dedicado à consciência negra, com showns, eventos, palestras, homenagens, notícias como essas estremecem o solo e nos trazem remotas lembranças de uma época que, aparentemente, deixou rastros. 
Pessoas afirmam que o próprio negro tem preconceito com a sua raça, pois em sua maioria, mantém seus cabelos alisados e tingidos.
Quando leio notícias assim, eu consigo entender: o negro deseja ser reconhecido como indivíduo, e quando não é possível, ele se assemelha esteticamente àquele que o manipula: o branco.
Este ano, um neonazista confesso, descobre em rede televisiva, nos Estados Unidos, que 14% do seu sangue é negro.
Como reação ele diz: “Espere aí!”.
“Espere aí!” é a interjeição que eu tomei para mim quando leio notícias como a do  menino Lucas.
A fadiga se apodera da minha mente, as pessoas dão um passo para frente e vinte para trás com atitudes como essa.
Fico aqui pensando: o que a “raça branca”  tem de tão especial que lhe é permitido o direito de escravizar, humilhar, estuprar, manipular a outra pessoa pela cor da sua pele?
O Brasil é um país de pessoas hipócritas, que tentam esconder em discursos poéticos, “compra votos”, o racismo, o preconceito que vem, sim, de berço.
A miscigenação que temos, que poderia ser aproveitada de uma forma sadia, é apontada como deformidade por mentes doentias que padronizaram o homem que não deve ser padronizado.
Obrigar o garoto a cortar o cabelo, alisá-lo e talvez tingi-lo de loiro e colocar lentes de contato azul, impugna o Estatuto da Igualdade Racial.
Sou favorável às cotas, para que assim os negros possam frequentar os mesmos ambientes tomados, em sua maioria, por brancos. Vale lembrar que temos, também, a questão monetária, enquanto brancos podem matricular seus filhos em escolas particulares, proporcionando aos rebentos uma boa formação para ingressarem em boas faculdades, aos filhos dos homens negros, que em sua maioria trabalham para os brancos, para que eles enriqueçam, estudam em escolas públicas de péssima qualidade, e, quisá, possam um dia ter a mesma chance dos brancos. 
A cota vem ser um singelo pedido de desculpas pelo mal causado pelos brancos aos negros, desde o auge da escravidão.
Com essa atitude da escola, percebemos nitidamente que querem,  mais uma vez, excluir os negros do convívio com os brancos, como era feito antigamente, em muitos estados dos Estados Unidos, fato que até hoje traz vergonha e é retratado nos filmes, como é o caso de  “A Vida secreta das Abelhas”, passa-se no estado da Carolina do Sul, no ano de 1964.
A mãe do Lucas foi à delegacia prestar queixa, descobriu-se que não foi uma atitude isolada, e uma ex-funcionária da escola disse que a diretora a chamou, uma vez, de “macaca”.
Hoje a mídia impressa e virtual está em polvorosa com este caso, e amanhã será esquecido. País de memória curta, mas não para o pequeno Lucas:
“Eu até voltaria para a escola com meus amigos, mas sem a mesma diretora”.
Lucas segue com seu cabelo intacto, como deve ser. 

O pequeno Lucas


A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...