27 de jan. de 2015

A menina que sofria calada

A mãe parada à  porta do armazém, esperava todos os dias a saída dos alunos, pois sabia que em seguida viria a sua filhinha, ficava triste ao ver a menina sempre chegando sozinha sem participar das cantorias e alegres risadas das crianças. 
Menina quieta, magricela, ágil, mas com uma grande mudança no comportamento, passou a ser isolada, muito pensativa e calada. Parecia que não queria que ninguém lhe perguntasse nada.
A mãe sempre lhe questionava:
- Minha querida, o que está havendo, não está gostando de estudar ?
- Nada, mãe, estou só pensando.
- Pensando em quê, minha filha? 
-Ah! mãe, nada, nada. 
E assim passava mais um dia.
Naquela época, não havia a pré escola, era direto na primeira série.
A menina estava sempre sozinha, seus pais a observavam e  quando a interrogavam ela não tinha nada a falar.
As outras meninas eram mais desenvolvidas fisicamente, e a garotinha de 7 anos era mirradinha.
Ela sofria até para carregar a sua maleta com seus cadernos, era quase uma mala. 
A mãe havia pedido ao pai que comprasse uma mochila para que a menina pudesse levar seus livros com mais facilidade, pois eram muitos para levar todos os dias.
O pai comprou uma espécie de mala ou maleta ou valise de couro marrom, era um tipo muito usado pelos viajantes, que a  usavam para vender a sua mercadoria.
Quando o pai apresentou a mala para todos, na cozinha, a mãe quase chorou, a menina não entendeu nada, só pensou:
- Como vou carregá-la até a escola, pois o caminho era muito longo, e quando chovia o barro dificultava mais a passagem.
Naquela época, usava-se uma galocha, um tipo de calçado de borracha que era colocado sobre os sapatos. Hoje, se falarmos sobre as galochas vão rir de nós. Elas eram muito úteis, pois com as poças de água, os pés se conservavam secos e os sapatos limpos.
Certo dia, a menina voltou com os sapatos cobertos de barro, roupa suja e sem as galochas. Os pais ficaram zangados, pois não era fácil manter uma família com conforto, mesmo sendo simples.
-Menina, onde deixou as galochas?
-Mãe, acho que alguém as levou por engano.
-Como por engano,nem todos têm uma igual as que você tem.
- Vamos até a escola para resolver. E foi arrastando a garota pela mão.
Porém já era tarde e a turma da manhã já havia saído para o almoço, era uma "Escola Isolada". A mãe não podia esperar havia muito trabalho à espera dela, em casa.
Naquela época havia os castigos e a menina recebeu o dela, chorou muito, pois sabia que estava sendo castigada injustamente, mas não podia falar nada.
Na manhã seguinte, a garota nem quis saber de ir à escola, foi quase que arrastada pelo pai, que era enérgico.
Talvez a presença do pai, na escola fez com que a menina tivesse uma trégua, porém, na semana seguinte, a chuva resolveu cair sem parar, ela tinha uma capa de plástico, um material diferente era mais grosso, ela ficava uma graça com a sua capinha de chuva.
Na volta para casa, voltou com a capa, mas sem uma manga e ainda toda suja de barro, era um barro de cor avermelhada. 
A mãe quis bater nela, ali mesmo, na rua, mas o pai a impediu.
Sempre acontecem milagres, e não é só nos filmes.
Os pais dela eram donos de um armazém bem sortido, havia de tudo ali, para vender.No exato momento, da discussão chegou o vendedor de bananas, era muito diferente dos dias de hoje, ele era como um empresário, mas que vendia banana. Ele tinha um caminhão de carroceria de cor verde e vinha todas as semanas carregado de cachos de bananas, eram enormes, só eram cortadas em pencas quando o freguês fosse levar.E como vendiam bananas.Mas voltando.....
O vendedor de bananas era muito amigo da família e percebeu o choro da garota e a voz alta da mãe, e perguntou o que havia acontecido.
A mãe desabafou  e colocou tudo de ruim na menina.O senhor muito simpático pediu para que a mãe o deixasse falar a sós com a garotinha.
Ela lhe contou sobre uma aluna, muito " grande" de cor escura, usava longas tranças e era muito ruim, ela maltratava a pequena só por inveja do que a menina tinha. ( Na época, ela não tinha nada, de bens materiais que a deixasse mais ou menos feliz, mas ela tinha a família mais linda da face da terra).
Após aquele senhor contar a história aos pais dela, (que ficaram chocados) orientou-os para que tomassem as  providências cabíveis em relação ao fato, que levassem ao conhecimento da direção da escola e dos pais da agressora.Hoje, sabemos que  naquela época, o bulling já existia, mesmo sem que soubéssemos nada sobre ele, já maltratava (em silêncio) muitas crianças. 



14 de jan. de 2015

A palmeira solitária

Quando eu era criança, meu bairro chamava-se Tócos. Meu pai foi um dos primeiros moradores entre poucos a construir aqui. A estrada que hoje é uma avenida movimentada, já foi barrenta, o lamaçal era tão intenso que os galhos e muitos tocos de árvores eram jogados para auxiliar a passagem nos dias chuvosos. Por aqui, passava a boiada também, (da qual já falei anteriormente, em postagens anteriores).
Do outro lado da rua havia, além de uma enorme valeta, com água limpíssima, muitas árvores, pinos, cipós era um verde muito denso e variado. Difícil atravessar, os meninos tinham campo de futebol, que ficava totalmente encoberto por vários tipos de mata. Era lindo. Eu e outras crianças gostávamos de brincar com os chamados pentes de macaco. Fazíamos até barquinhos com eles. Ah! Naquela época, havia uma quantidade enorme de bugios ( um tipo de macaco de cor avermelhada, gritavam muito).
Havia muito ingá, uma fruta que eu gostava de comer e me associava aos macacos (risos). 
Nem tudo, permanece igual para sempre, pois vem o progresso e, aos poucos, o meu paraíso foi se transformando. 
Hoje, o meu bairro, o querido (Tócos ), é o mais populoso do município,  não faltam os comércios, dos quais precisamos. A escolinha é hoje um grande colégio, temos posto de saúde, farmácia,supermercado, barzinhos, igreja  enfim, há o básico para não haver a necessidade de irmos ao centro para quase nada.
A velha estrada barrenta virou uma avenida importante, a avenida João Pessoa. 
O canteiro central com grama, flores, pés de hortênsias ( adoro este tipo de flor ), enfim para um canteiro de avenida estava muito bonito. Estava, eu disse, pois é, porque hoje, transformaram este canteiro central em puro asfalto, no qual o sol escaldante dá para perceber a fumaça de calor subindo e, com certeza, tirando um pouco mais da umidade do ar. 
A ideia de substituição do canteiro central por asfalto já estava sendo cogitada há tempos, meu querido pai ( ainda vivo ), estava sempre cuidando para que isto não acontecesse. Penso que se ele ainda estivesse aqui, quem sabe, o canteiro central, também permanecesse intacto. 
Todos nós sabemos que um simples canteiro de grama é de vital importância, pois a temperatura é mais baixa porque melhora a qualidade do ar. 
Hoje, o canteiro central da avenida é de puro concreto, falta ainda uma tela que será colocada para proteção. 

Há muitas pessoas que dizem estar bonito, mais limpo, porém, penso que tudo isso é  apenas uma questão de conscientização de que somente, nós mesmos poderemos mudar esta situação. 
"O desafio ainda é compreender que há vida em todo lugar e que ainda há muito a ser feito". 
Eu tive uma conversa com o senhor prefeito de Porto União, ele gentilmente me esclareceu que a grama e as demais plantas prejudicavam o asfalto, pois aconteciam infiltrações e, que o gasto para manter a grama aparada, também era alto. 
Perguntei a algumas pessoas que entendem mais que eu, e elas me disseram que o asfalto bem feito tem estrutura para aguentar a infiltração da água, pois já se previne antes disso acontecer. O senhor prefeito me disse: - A única árvore que havia permaneceu lá.
Pois é ficou a palmeira solitária em um quadradinho de grama. Como explicar que não é pela palmeirinha, que eu estava falando mas por uma avenida que cruza a cidade e, era coberta de verde. Hoje é coberta de pedra.
Ouvi, há pouco, os músicos Sá e Guarabyra: - O sertão vai virar mar, dá dó no coração / o medo que algum dia, o mar também vire sertão. 
Nós temos que aprender a pensar no nosso jardim.
"Quando olho para a América e também para a minha terra natal, América do Sul, muitas florestas sendo cortadas se tornaram uma terra que não pode mais dar vida. Esse é o nosso pecado: explorar a Terra e não permitir que ela nos dê aquilo que ela pode nos dar." Papa Francisco.  

6 de jan. de 2015

Duas cadeiras para Odilon Muncinelli


Estou novamente enfrentando uma situação difícil, árdua até, pois escrever sobre um  advogado, escritor, colunista, historiador e que faz parte da Academia de Letras  (ALVI), já nos deixa quase no campo da exaustão com as palavras .
No momento, estou tentando fazer o melhor  para homenagear  “ novamente” o grande amigo, Dr. Odilon Muncinelli,  que indicado e aclamado, integra “ mais “ uma cadeira na área das Letras. Li em uma matéria do dia 16 de dezembro, à página 08, que o nosso nobre colunista, o qual assina há 11 anos a coluna “ Milho no Monjolo”, no Jornal “ O Comércio”, disse estar caminhando para o ponto final, não entendi como esta ideia de ponto final foi parar na matéria, pois Odilon é Homem das vírgulas , isto é, após cada vírgula vem mais palavras,  assuntos, textos, matérias e quem sabe, podem vir até mais cadeiras. Sem ironias e com sua permissão faço uso de tal português, o nobre escritor é o “ Cara das Letras.” Sinto-me no perigo ao escrever para homenageá-lo,  pois tenho que ter o cuidado de colocar tudo no lugar certo, para que ele sinta seu real valor ao ser o nosso escritor. Até Clarice Lispector disse ter medo de escrever, e, eu o que posso dizer a respeito de tanta responsabilidade em citar Odilon Muncinelli, aqui. Ele foi indicado pelo amigo, Rubens Tarcísio da Luz Stelmachuk. Após a indicação nada mais foi necessário, pois Muncinelli  teve sua entrada triunfal no Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. Aconteceu no dia 09 de dezembro, em sessão solene, às 17horas.
Odilon Muncinelli  já é imortal, pois viverá para sempre na memória, na cultura da nossa terra e da nossa gente. Emocionante, hein!
Olavo Bilac costumava dizer que os imortais estavam sempre de mau humor, brincava dizendo que os acadêmicos eram chamados de “ imortais” porque não tinham onde cair mortos.” Piada, dele é claro.” Oposto disto, Odilon está sempre de bom humor e pronto para uma longa prosa e como  dono de duas cadeiras, já é imortal pela gratificação de seus registros  nos oferecendo duas vezes por semana muito conhecimento  e prazer com o registro de suas pesquisas.
Nós, reles mortais, seus leitores sabemos da felicidade do “nosso imortal,” pois ele tem a certeza, de que suas obras não morrerão jamais.
Odilon traz o sangue de escritor, penso ser sua vocação nos dar a cada dia maiores conhecimentos, os quais garimpa, registra e nos dá de presente.


Parabéns, amigo escritor, Odilon Muncinelli que possui a imortalidade da escrita, à Beira do Iguaçu.


A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...