11 de jun. de 2016

Viver a solidão

O dia amanheceu com a temperatura baixa, dois graus negativos.
Eram cinco horas da manhã,
o sol ainda não havia despertado,
e ainda estava escuro.
O cheiro do pão assando no forno,
a manteiga sobre a mesa,
na parede de madeira, um quadro pendurado mostrava um casal.
Na velha geladeira, um pequeno crucifixo escondia a ferrugem da porta,
o silêncio imperava.
Sentou-se à mesa,
o pão recém saído do forno, emanava um delicioso aroma, e trazia a ela boas lembranças, lembranças
de um tempo que não voltaria mais,
de um tempo em que as crianças corriam em casa, e adultos conversavam em volta do fogão à lenha.
Aqueles domingos intermináveis, que o tempo não fazia questão de passar, e a chuva era bem vinda para irrigar a plantação.
Hoje, apenas lembranças... e o pequeno pão sobre a mesa...
Cortou uma fatia, um pouco grossa,
abriu o pote de manteiga, a qual
devido ao frio, estava um pouco dura,
mas a fatia quente derreteu quase instantaneamente aquele pedaço amarelo,
o bule de café já não precisava mais ser tão cheio, junto à
pequena caneca de esmalte, com alguns pedaços descascados.
Enquanto levava a pequena caneca à boca, a fumaça embaçava seus óculos, 
e ela se perguntava:- Como o tempo passou tão rápido, tão de repente?
A casa ficara tão grande, o assoalho tão silencioso
Sentia falta da companhia, sentia falta de um bom dia, sentia falta das risadas.
Levantou-se, enrolou o pão numa pequena toalha branca,
guardou-o dentro do forno,
retirou o bule da mesa, levando-o novamente para o fogão .


O sol já aparecia entre os morros
Logo, o galo cantaria e, mais um dia começaria
Mais um dia, a mesma rotina solitária.
Por onde andariam seus filhos, seus netos?
Por onde andariam àqueles que um dia tanto a alegraram?
A casa já não tinha mais tanto viço,
os dias já não eram mais tão esperados,
eram apenas mais um dia.
Agasalhou-se bem, pegou o pequeno balde com milho e foi alimentar a criação ,
que, já ansiosos, esperavam a pequena senhora, próximos à porta.
A passos lentos, chinelo de pano, forrado, arrastou-se pelo terreno
Milhos voavam pelo céu, caindo aleatoriamente pelo chão,
e,assim era seu dia.
Desde que eles partiram...
Quanto tempo mais seria assim?
Ela não sabia.
Há tempo perdera a esperança.


O dia escureceu. Trocou os chinelos e fechou a porta, ligando o velho rádio.


A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...