Cresci
vendo a fogueira ser montada, ser acesa e queimada, espetáculo que se repete
todos os anos com a festa do Padroeiro do bairro São Pedro. Neste ano, será a
82ª. fogueira a ser acesa. Aproximadamente na década de 60, meu pai tinha um
caminhão Chevrolet e o Sílvio Melo, filho do seu Romualdo, possuía outro. Os
dois dirigiam até o Trabuco, onde meus avós tinham um sítio, havia uma equipe
de voluntários que ia junto, para lá cortarem a lenha para a fogueira, eles
saiam de casa bem cedinho, levavam comida e passavam o dia no mato trabalhando,
tudo acontecia nos finais de semana. Meu avô, Estácio, fez a doação de lenha
por muitos anos.Aos domingo, as crianças podiam assistir de longe o trabalho,
que era extremamente árduo, porém, recompensador. Meu pai tinha um armazém e
ainda trabalhava como marceneiro, sua profissão, entalhava móveis com muita
perfeição o que o fez, por vinte e três anos. Na época da fogueira, ele às
vezes, não podia estar junto com a equipe, pois precisava ajudar a minha mãe,
no armazém, então ele mandava a comida para todos que estavam trabalhando para
erguer a fogueira. As varas de eucaliptos eram compradas, mas não eram varas
eram troncos enormes, como deviam ser para sustentar tão grande "
Colosso". Em certa ocasião, um senhor doou as varas, eram muitas e grossas
também, como o tempo estava muito chuvoso as varas ficaram por alguns dias à
beira da estrada, no meio do barro. Em um sábado de muito frio e com geada,
conseguiram emprestar o trator do Seu Madureira (gerente do banco INCO), foi
colocado um reboque engatado no trator, as varas (muito grossas) estavam
cobertas de gelo, o trabalho durou muitas horas e quando tudo estava pronto, o
dono do trator chegou e recolheu-o, porque ele só admitia que o seu motorista
usasse a máquina. É claro que tudo foi desfeito, e meu tio ( Ihor Andrukiu) me
contou que a fome era desesperadora, tiveram que arrumar um caminhão e carregar
tudo de novo. Já era noite, pois no inverno, o sol vai dormir mais cedo, e
todos da equipe sabiam que ainda tinham que descarregar no pátio da igreja,
dizem que São Pedro é muito bom, pois quando chegaram, o motorista fez uma
manobra rápida, mas no lugar certo, sem ninguém mais sobre o caminhão, aí,
arrebentaram-se sozinhas todas as cordas e, num segundo todas as varas estavam
no chão. Contaram que todos aplaudiram agradecendo a São Pedro.
A equipe
era composta por seu Osni Meyer, Seu Friedrich, Sílvio Melo, Ihor-Ivo Andrukiu,
Seu Valdemar( conhecido como Piratuba), Levanir Fagundes, Pedro Celestino,Adelmo
Menegasso , Carlos Drosdoski, Seu Ângelo Shwab, e meu querido pai. Tentei não
esquecer nomes.
A
fogueira começava a ser erguida e quando já estava em uma altura que não dava
para alcançar, era passado uma roldana e assim puxada a madeira para cima, ela
era toda reforçada com muitos arames, hoje são cabos de aço. O guindaste do
batalhão sempre dava uma ajuda, certa vez foi colocado no guindaste uma vara
enorme, foi fechado o gancho e começou a subir, a vara era tão alta que se
tombasse pegaria muitas casas. De repente, todos perceberam que o gancho abriu,
a vara ficou suspensa, o soldado que manobrava não mexeu em nada, ficou
paralisado e todos pediram a São Pedro aos brados para que os ajudassem, e
quando a vara começou a balançar o gancho se fechou sozinho, agradeceram de
joelhos, eu acredito em milagres, mas este eu não presenciei, porém houve
muitas testemunhas, até o soldado que manobrava o guindaste ficou sem fala.
Nessa
época, a fogueira ganhava altura e chegou a 60 metros, dizem que passou um pouco,
foi notícia no Jornal Nacional e no Fantástico.
Ah! Agora
vem a peça chave, como acender a fogueira tão alta, o seu Schwab (meu pai
sempre dizia que ele sabia fazer de tudo), hoje seria o Magayver, ele criou uma
peça com dois fios elétricos que ia até o topo da fogueira, colocava uma resistência
rodeada de místico (não é pólvora, seria como o pó do palito de fósforo) e
estopa embebida em gasolina, embaixo uma mesa com um interruptor, que era
acionado pelo convidado a acender a fogueira, assim ela era acesa.
Nesta
foto, Seu Ângelo Shwab, é o que está usando boné, puxava as varas de bracatinga
a cavalo, da propriedade do senhor Rafael Sosnowski , próxima à igreja do
bairro, as quais eram emendadas para chegar à altura desejada. Todo o trabalho
era feito com muita alegria e, em equipe.
As
lembranças trazem saudades, hoje por medida de segurança ela fica entre 38 e 40
metros.
Era uma
grande equipe e fazia sucesso, como nos dizia Murillo Cintra de Oliveira:-"
O segredo de um grande sucesso está no trabalho de uma grande equipe".