29 de set. de 2017

Ser cidadão e ter cidadania

Estávamos caminhando pelo parque da cidade, em companhia de duas pessoas, uma amiga de longa data e outra, que era amiga da amiga. Fomos conhecer o lugar, pois havíamos feito uma pequena viagem com esta intenção. Ao passar por uma árvore, percebi muitas latinhas e copos descartáveis jogados sob a belíssima árvore, e nada daquele lixo combinava com a paisagem, peguei uma sacolinha que estava no chão e coloquei o lixo dentro, e comecei a olhar em volta para ver onde estava o balde ou cesto para depositar o que eu estava segurando, e não longe dali eu o avistei, depositei  a sacola cheia e voltei. Quando me aproximei das duas, a amiga da minha amiga estava de olhos espantados comigo, e disse:
-Você é ativista?
Fiquei observando-a e respondi:
-Não, sou cidadã.
E ela continuou:
-Mas você nem mora aqui, para que se preocupar com a limpeza de outra cidade?
Eu estava pronta para ser um pouco grosseira, mas pensei melhor e respondi:
-Temos que cuidar de tudo e de todos, pois o que afeta uma pessoa afeta a todos nós, mesmo que indiretamente, e se temos caráter, somos inteligentes, é porque fomos educados, e a Educação faz parte de tudo isto.
-Mesmo não morando aqui, lembro que Sócrates já dizia, que não era ateniense nem grego, mas um cidadão do mundo. Eu me sinto um pouco assim, por isso, penso que tenho que cuidar dos lugares por onde passo. Senti-me na obrigação de continuar a minha explicação. Entendo que ser cidadão é ser gente, é respeitar o próximo como a si mesmo.
Ser cidadão não é apenas ter direitos, pois sabemos que o cidadão tem direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante à lei: ter direitos civis, também participar dos destinos da sociedade, possuir direitos políticos.
Ser cidadão é participar como agente atuante da sociedade, e não se limita em apenas cobrar pelo retorno dos altos impostos cobrados, mas com certeza, é respeitar ao próximo independente de sua cor, religião, sexo, pois ele é seu próximo e tem os mesmos direitos e deveres que você. O respeito vem de situações muito simples, como: respeitar as filas, e como o que aconteceu há pouco,não jogar lixo na rua, nas calçadas, nos parques.
Precisamos fazer sempre o melhor que existe em nós, lembrei de Martin Luther King quando falou:”Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito.”E, se isto acontecer já podemos nos sentir como bons cidadãos.
Ser cidadão é ser o criador de seu próprio mundo, seu ser, sua identidade, é ser agente do processo histórico  Ter cidadania é ter consciência crítica, é saber refletir sobre tudo.


“É o homem constituir-se como homem entre outros homens.”

18 de set. de 2017

O outro lado da cegueira

Um dos trechos mais comentados e que mais aprofundam o leitor dos personagens é quando Saramago escreve:  “O medo cega (…) são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos”(…) “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.
Penso comigo quantos, desprovidos da visão física, reparam no próximo muito mais, que nós, que temos a visão perfeita, fisicamente falando, e a história nos leva ao submundo do ser humano, uma pitada de algo animalesco, em que nos despimos de toda moral e bom costume, e mostramos que nem sempre somos fortes a certas situações como queremos mostrar à sociedade.
É bíblico falarmos “ajuda ao teu próximo”, mas quantos o fazem? Quantas pessoas vem e reparam no próximo? Diante de inúmeras diversidades, quantas fazem algo? Quantas saem do comodismo e realmente fazem algo?
Não sei se somos cegos propositadamente ou porque fomos acostumados a sê-lo, há sempre um pouco de comodismo em cada um de nós, que grita mais alto quando se trata de arrancar as vendas dos olhos e ser empático. 
Na história, que retrata a todos nós, aos poucos a natureza humana vai ficando de lado, e o animal surge, pela simples e pura luta por sobrevivência, por um pouco de comida e água.
Analisando a obra acredito que pouco mudou de 1995 para cá. Aceitamos muitas coisas passivamente, fingimos não reparar em outras.
“Se não formos capazes de viver como pessoas, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais.”

E como dizia José Saramago: Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.

8 de set. de 2017

Devolvam o papel do homem ao homem



Não conhecia a literatura de Martha Medeiros.  Havia assistido ao filme Divã, ótimo roteiro, ótima interpretação de Lilian Cabral, mas não sabia que era uma adaptação da obra literária dessa cronista brasileira, por ignorância, preguiça momentânea ou simples falta de curiosidade, apenas assisti ao filme, sem interesse nos créditos, fato que não é comum, pois  vejo o roteiro e, se é adaptação, procuro saber sobre o autor e obra.
Estava eu na fila do mercado, algo que adoro, por sinal, e deparei-me com o livro “Feliz por nada”, perguntei-me: e por que não? Comprei.
Fazia alguns meses que não abria um livro novo, e estava sentindo falta das folhas entre meus dedos. A leitura digital tem suas vantagens para quem não tem tempo, mas jamais substituirá o prazer de um bom e tradicional livro físico. Trata-se de um livro com várias crônicas, escrita por Martha, em vários momentos de sua vida, todas com o teor do tema: é preciso muito pouco para ser feliz. Entre os textos lidos, o que mais me chamou a atenção foi “Mulheres na Pressão”, as mulheres de hoje não se comparam em nada às mulheres do tempo da minha avó, por exemplo , ou melhor, o único elo comum que ambas têm é que são mulheres. No fundo, apenas mulheres, mas não estou aqui para discorrer sobre nós, mulheres, mas sobre algo que, em uma frase, uma pequena frase, já no final do texto, Martha me fez parar por um momento, fechar o livro, dar um sorriso e exclamar: é isso aí ! “Estou com saudades de ler e ouvir sobre as adoráveis qualidades dos homens. Eles merecem voltar a ser valorizados em seus atributos.”
Pensei na hora: essa gaúcha entende da coisa! Resumiu o que há tempo não se consegue explicar: por que os relacionamentos homem x mulher duram pouco? Por que os homens andam apagados? Por que os homens se sentem tão ameaçados pelas mulheres? Por que os homens não tomam mais iniciativas? Por que há tantas mulheres tomando conta da casa, emprego, filhos, família? Cadê os nossos homens? Refiro-me a todos : namorados, maridos, amigos, irmãos, avôs, tios, primos, pais...Não se vê mais tal espécime na mídia (escrita ou falada).
Antes eu abria uma revista e via uma página inteira referindo- se a eles. Hoje, no máximo, um anúncio de duas frases. Antigamente, o homem fazia seu papel, e muito bem feito, diga-se de passagem.
Hoje, o homem está esquecido, o homem está jogado de lado, está em um canto da sala e fala  quando é convidado pela anfitriã. As mulheres tomaram frente de tudo, inclusive quando ele deve se aproximar e se afastar. Quebrou-se o encanto, esqueceu-se a magia, e o homem encontra-se perdido num mundo moderno, num mundo em que temos mulheres fazendo papel de pai e mãe.
Os mais afoitos e feministas, respirem, contem até três. Não estou  difamando, nós, mulheres. Não estou descartando nosso papel na sociedade, na evolução, nem mesmo esquecendo as coisas boas que trazemos todos os dias, para o mundo, mas creio que devemos deixar o homem voltar ao seu papel: ser homem, ser pai, ser amigo, ser irmão, ser avô, ser tio, ser namorado, ser empregado, ser patrão, ser companheiro. Não há substituto  para o homem, assim como não há para a mulher.
Ficamos tantos anos sendo descartadas, que, quando abriram a porta, avançamos com tanta sede ao pote, e não paramos mais, nem mesmo para tomarmos fôlego, e o pobre homem, acuado, estagnou-se.
Não sei se ainda há tempo para que eles  reencontrem seus papéis na sociedade moderna, mesmo sendo polêmica a frase: vale a pena deixarmos tentarem.

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...