28 de abr. de 2018

Rir ou Chorar


   Há muitos fatos em nossas vidas, que nos levam a sentir tristeza, porém outros acabam nos fazendo rir, mesmo não sendo a intenção.

 Era finzinho de tarde, coletivos passavam apressados e lotados, Dona Cida, falava:

 - Gente, preciso pegar o próximo ônibus, porque quero escapar da chuva, e
ainda tenho um longo caminho até minha casa. Havia muitas pessoas nas mesmas condições que ela, o silêncio era assustador, mas ninguém ousava comentar nada, pois o cansaço era visível em todos os rostos, alguns olhavam fixamente para o chão, outros verificavam os coletivos que se aproximavam, na esperança de que parassem para que todos pudessem ir para suas casas. Nenhum parava, todos lotados, o condutor só fazia um leve aceno com a cabeça, confirmando a lotação.
  Dona Cida, estava revoltada e começou a xingar em voz alta. Falava até o que não devia, dava pequenos pulinhos demonstrando a sua indignação contra o serviço dos coletivos, pois ela jamais conseguira chegar em tempo para jantar com a filha, que a esperava saudosa.
 Cida, bateu tanto, e com tanta força, a sua sombrinha, no banco, que a quebrou ao meio.
 De repente, um senhor levantou-se irritado e passou um sermão nela.

Foi uma péssima ideia, pois a mulher descarregou a raiva incontida sobre o pobre senhor. Ele ficou sem ação e sem argumentos, pois ela nem deu chance para ele continuar. Os demais passageiros que esperavam pelo ônibus, se posicionaram em fila para o acesso, no próximo ônibus que se aproximava, a mulher tão preocupada em reclamar não percebeu a chegada dele. Quando viu era tarde, pois o ônibus estava lotado e fechara as portas. Cida tentou atirar uma pedra contra o coletivo, mas o impulso mal dado, fez com que a pedra caísse logo adiante. O ato agressivo foi criticado pelas pessoas, que faziam nova fila para embarcarem no próximo ônibus, a maioria das pessoas ignorava a tal senhora, que mais parecia uma louca desvairada, estava visivelmente estressada pela correria da vida diária, digna de pena, e tantos e tantos passam pelo mesmo dilema. Notamos que as pessoas reagem de maneiras diversas, enquanto Cida mostrava-se agitada e descontrolada outras pessoas ficavam caladas, introspectivas, remoendo seus pensamentos, lendo ou falando ao celular.

 Passavam os ônibus de todas as linhas, dona Cida mais calma, percebeu que precisava ficar atenta para embarcar no próximo ônibus. A fila era extensa, ela ficara quase no final, pois sua inquietação fizera com que perdesse um lugar mais à frente.
  Calou-se e seguiu para entrar no ônibus, percebeu que nem todos conseguiriam seguir viagem, pois o ônibus já vinha lotado, ela ficou posicionada de maneira que quando as portas se abriram ela conseguiu entrar, passando na frente de todos, o coletivo seguiu, mas a bolsa dela ficou pendurada fora da porta.
 Os gritos eram uníssonos:
 -A bolsa! Olha a bolsa! Oh, dona, olhe a bolsa!

 Infelizmente, a bolsa viajou assim, até a última parada do ônibus.

18 de abr. de 2018

Medo da Chuva

Foto da internet



Ela vem chegando mansinho, mas de repente mostra toda a sua força e quando a mostra leva consigo tudo o que encontra pela frente.
A chuva nos é benéfica na medida certa, mas quando ultrapassa o limite traz a desgraça de uma ou várias cidades, pois deixa seu rastro de desolação. Este assunto surgiu logo após uma chuva forte que caiu em nossas cidades, no dia de ontem. Não vamos falar aqui, da interferência do ser humano no trajeto da água como; problema da pavimentação, eliminação da vegetação, desmatamentos das ruas, praças, o excesso de cimento, calçadas, falta de drenagem e outros meios que ajudariam no escoamento da água, sem esquecer a abundância de lixo descartado de maneira indevida.
Então é certo dizer que não respeitamos o ambiente em que vivemos, é triste.
Vamos falar sobre o sofrimento das famílias que vivem a olhar para o alto, quando a chuva parece não querer parar. Assim aconteceu ontem, com uma amiga, que ficou preocupada ou triste com a lembrança da última cheia em nossas cidades.  A ansiedade, o medo e até angústia daqueles que já viveram o drama de uma enchente ainda é presente em sua vida e de seus familiares.
Mesmo que sejamos privilegiados em morar em lugar livre de enchente, sofremos com parentes e amigos que ficam desabrigados de casa, agasalho, conforto do lar, da família, pois muitas são divididas para morar, mesmo que temporariamente com outras pessoas. Quem tem lugar com parentes, quem sabe se estresse menos, mas há os que ficam em escolas, em ginásios, em igrejas, e nem sempre há condições de suprir todas as necessidades.
As pessoas que perdem sua casa mesmo que depois recuperada, qualquer trovão a faz tremer pelo medo do que vai perder. Já dizia Wiliam Feather:
“Algumas pessoas estão fazendo uma preparação tão minuciosa para os dias de chuva que eles não estão aproveitando o brilho do sol de hoje.”
A chuva contínua, que permanece por vários dias, e transforma-se em calamidade, passa a ser uma inimiga, por isso, muitas pessoas não vivem sossegadas. Todos sofrem, e, há ainda os animais. Minha amiga estava muito sentida ainda, depois de tanto tempo passado, porque perdera seu cãozinho de estimação, pois no dia da mudança, com a água chegando ele fugiu de medo, e mesmo com muita procura jamais foi encontrado E, assim há com certeza, muitos casos piores envolvendo morte de pessoas, roubo de alimentos, de cobertores e muitas outras coisas.
Clarice Lispector dizia que as pessoas ficam tão preocupadas com a chuva repentina, a transformam em tempestade, mesmo sendo apenas uma nuvem passageira.
Como não temer a chuva que vem com vento, as árvores se dobram ou se quebram com o impacto de muita chuva, sem falar no granizo, pois este congelado, o vapor de água fica com mais peso do que a nuvem pode aguentar e cai, em forma de pedra de gelo, também fazendo seus estragos em plantações e, às vezes pelo tamanho, acabam matando animais que estão no campo. Quem já passou por momentos tristes devido às chuvas ou enchentes vai ter que com o tempo trabalhar para afastar o medo, pois a chuva virá sempre.


Quem sabe pensar como Raul Seixas:
“Eu perdi o meu medo, o meu medo da chuva.
Pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar.
Aprendi o segredo, o segredo da vida.
Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar.”


A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...